A CASA DAS QUATRO MULHERES


Vista parcial do Vale Encantado (Vargens de Bambuí, Mg,) local onde se passou essa história.
__Para lhes relatar essa história, e para ênfase dos fatos ocorridos devo retornar no tempo, e desta feita, para esse que vos escreve, parece que foi ontem que se passou tão vívidos e comoventes fatos. Fecho os olhos e me transporto num redemoinho de pensamentos ao ano de 1961, e ali me vejo com quatro anos de idade. Desobedeço minha mãe e percorro a trilha funda que me leva à casa de meus avós a poucos metros dali. Deixei-a entretida em remendar as roupas de meu pai, e até que perceba minha ausência já estou no colo de meu avô Luis, lavrador forte e humilde que desposou a filha de Neca Baio e criou nove filhos, dentre eles somente o caçula Onofre ainda estava solteiro. Mas já aflorava-lhe os hormônios visto que arrastava asas para a filha do senhor Miguel, cabrocha bonita, de pele lisa e achocolatada que morava do outro lado da encosta.

Esta moçoila o fazia perder noites de sono. No auge de sua juventude, a menina exibia por baixo dos longos vestidos curvas que faziam o afoito rapagão trabalhar como um louco nas lavouras. Disposto a ter um futuro relacionamento precisava amealhar fundos para a construção da casa onde pretendia viver com ela. E ele trabalhou arduamente e algum tempo depois já tinha tudo o que precisava para se casar. Mas o intempestivo e grande amor tinha tudo para não vingar, se fosse escutar a teimosia da mãe do rapaz, a velha não queria o casamento de maneira nenhuma, talvez por rusguinhas bobas, ou mesmo vai se saber, pela cor da pele da garota. Esse detalhes, sei da boca de meu pai que é um dos irmãos mais velhos e que graças á Deus é testemunha viva desses fatos.
__Nestes tempos a comunidade das Vargens, que eu denomino de "Vale Encantado" em meu livro "O Vale Encantado e o menino de Suspensórios" crescia próspera, e de cada canto podia-se ver uma construção, algumas cobertas com capim, outras com telhas, mas tudo numa simplicidade de fazer gosto.

Vargens de Bambuí - Minas Gerais (Vale Encantado).



Tinha lá as dificuldades das pequenas comunidades, mas toda tarde quando os homens retornavam de suas lidas, encontravam felizes suas companheiras e filhos esperando para uma refeição bem quentinha, era uma alegria só. E o jovem Onofre ansiava por isso também, bem como sua linda e prometida Maria. Começou esse amor ás escondidas talvez, mas foi tão intenso que a birra de D. Olimpia sucumbiu a insistência do caçula, e no dia 14 de setembro de 1960 se uniram conforme as leis da igreja católica.
O jovem Onofre e sua amada Maria se casam em 14 de setembro de 1960. (Foto gentilmente cedida por 
Aparecida de Oliveira).
O SONHO REALIZADO

__Agora os dois jovens daríam vasão à força desse amor que nasceu de olhares tímidos e educados, e que cresceu á cada dia, pois nestes tempos nem mesmo um simples beijo era permitido antes das formalidades da lei. Como os outros filhos do meu avô Luiz, o jovem Onofre construiu sua casa bem de vista á poucos metros dali. A casa já foi coberta com telhas e o piso feito com tábuas, diferente da cabana de capim onde eu morava. É, o jovem queria fazer bonito para sua amada.




__Lembro-me muito bem, apesar da pouca idade, nunca esqueci dos deliciosos bolos que a tia Maria fazia. Agora, quando eu fugia de minha mãe, em vez de ir para a casa dos meus avós, eu ia era para a casa do tio Onofre.  E lá já tinha duas menininhas com as quais eu passava brincando boa parte do dia. Eram três, mas uma ainda estava nos braços da mãe. Após o nascimento dessas crianças, a mãe de Onofre mudou o modo de pensar a respeito da nora, pois agora, as netinhas lhe enchiam os olhos. Era a força do amor vencendo as barreiras da ignorância, não importava agora a cor da pele de Maria, mas sim, a cor do sangue que corria nas veias. E todo sangue, o meu, o seu, o de minha vó Olimpia e o de Maria, eram vermelhos, vermelhos no mesmo tom.

  
A casa de meu avô Luiz, e ao fundo a casa de Onofre e Maria. ( Aquarela: Joel Di Oliveira)

__Em seguida ao casamento e ao nascimento dessas crianças vieram bons tempos de paz, no trabalho e nas relações entre todos os moradores da localidade, menos com os herdeiros do falecido senhor Ernesto, fazendeiro rico lá do atalho que possuia inúmeros alqueires de terras que vinham fazer fronteira com as terras do meu avô Luiz.  O senhor Ernesto, juntamente com o velho Miguel, avô de Maria eram irmãos de criação e nutriam uma grande amizade um pelo outro, portanto dara á ele um quinhão de terra para seu desfrute e moradia.
Ali o senhor Miguel criou seus filhos Nego, José e a linda Maria, poderia também, que o amigo e irmão criasse suas vacas, porcos e galinhas naquele lugar. Essa amizade conquistada desde crianças, se firmou mais ainda quando Dona Libertina a esposa de Ernesto não pudera amamentar seu caçula Juvenal (Naná) por falta de leite nos seios, e precisou que Dona Julia, a mulher do Miguel, amamentasse o primogênito do amigo. Dona Julia era uma mulher forte e também dara a luz a um menino nos mesmos dias e tinha farto leite, não se negou á esse ato de amor. Uma mulher que se presta a essa obrigação torna-se também uma segunda mãe da criança amamentada, assim os dois bebês se tornaram irmãos de leite. O senhor Miguel sentiu imensamente a morte de Ernesto, e as essas alturas o destino já lhe reservava algo ainda pior. Mas antes de lhes contar essa parte, voltemos aos nossos personagens principais.


O jovem Onofre tinha agora tudo que sonhara, e criava sua familia como todos os outros irmãos.  Mas o tempo é como o vento, dez anos se passaram de intensa felicidade em que Onofre e Maria viveram um para o outro. Como todo jovem, Onofre gostava de futebol, e ali nas Vargens todo final de semana uma comunidade disputava contra a outra. Ele, um rapagão forte se destacava entre todos, ágil, logo tomava a bola de seus oponentes e cruzava rápido o campo para fazer gol.  Mas tanta felicidade não duraria para sempre. Numa tarde de domingo, quando o jovem Onofre participava de mais um jogo, ele sentiu um mal súbito, correu mais alguns metros e tombou para sempre. Os colegas se aglomeraram ao seu redor tentando reanimá-lo, mas não foi possível. Dentro de um caixão ali estava o jovem Onofre com apenas trinta e três anos deixou Maria e as três filhas ainda pequenas. Aparecida com sete anos, Abadia com quatro e Ana com 08 meses de idade dependiam agora de Maria. Maria não mais sentiria o calor do abraço de seu amado, sua vida pareceu ficar sem sentido, houve dias que pensou que não suportaria.  Mas a mulher  era uma guerreira, de pé na soleira da porta olhou longamente para o céu e clamou á Deus forças para criar aquelas crianças. E então, sem ajuda de quem quer que fosse ela passou a trabalhar para conseguir o sustento das filhas. Em 1976, com as filhas em idade escolar ela muda-se para a cidade, não que quisesse sair da casa que seu amado Onofre tinha construido, mas porque foi despejada sem piedade nenhuma.

MEA CULPA

Aqui nessa parte devo inserir alguns detalhes que fizeram Maria sofrer mais ainda. Meu avô Luiz, já velho e doente com uma asma que insistia em não deixá-lo, caiu doente na cama, desta feita não havia chá que desse jeito. Estava difícil para os filhos que já haviam se mudado para a cidade cuidar dele ali na roça. O Juca, um dos mais velhos já tinha se mudado para Uberaba. Então decidiram que deveriam vender as terras e com o dinheiro comprar-lhe uma casa em Bambui, ali ficaria mais perto de recursos médico. Assim fizeram, creiam, o velho, com o desgosto de ter vendido as terras que herdara de seu pai , o português Antonio Fortunato piorou ainda mais.  A olhos vistos notava-se a tristeza e a decadencia do homem, já se esperava o pior. Então certa noite, lembro-me muito bem, acordei com alguém chamando, era minha avó desesperada que vinha avisar que o vô Luiz estava ás vésperas da morte, e desta vez não teve jeito mesmo. Respirando com muita dificuldade ele esperou somente a extrema unção de um padre que fora chamado ás pressas, mas antes de partir recomendou aos presentes que cuidassem bem de minha avó Olímpia, depois calmamente virou-se para o canto e dormiu para sempre. 

__A venda das terras de meu avô, esse é o detalhe, culminou com a saída de Maria da casa que seu amado contruira para ela. Os filhos de meu avô, dentre eles incluo o meu pai, para comprarem a casa na cidade venderam as terras para o senhor Herculino, e este sem piedade nenhuma exigiu que Maria desocupasse a casa onde morava. Então de um dia para o outro Maria se viu despejada, com móveis, animais e suas filhas numa encruzilhada da vida. 

...de um dia para o outro Maria se viu despejada com móveis, animais e suas filhas numa encruzilhada da vida.




Os filhos de meu avô erraram de não terem reservado á Maria o direito de permanecer em sua casa, pois Onofre, o irmão caçula não estava presente para opinar. Sendo assim, Maria deveria ter sido consultada quando se reuniram para vender as terras. Ao meu ver, que me perdoem os que já partiram desta existencia e mesmo os que se encontram ainda entre nós, mas foram insensíveis esquecendo da esposa e filhas do seu irmão. Eu confesso, mesmo sendo na época um adolescente e vindo só agora saber desse lado da história, me sinto envergonhado e com certa parcela de culpa. O que certamente eles deverão sentir se por acaso se dispuserem a ler essa matéria. Aquele lar que Onofre construiu com tanto carinho ficou abandonado para sempre. Não se escutaria mais ali os alegres risos das crianças que Onofre amou tanto, nem o estalar de gravetos queimando no fogo quando Maria lhe preparava um café.  No último dia naquela casa, antes de sair, Maria foi ao quarto onde dormia com seu amado e confessou baixinho que ele seria o único homem de sua vida.


...Maria confessou baixinho que Onofre seria
o único homem de sua vida.
 

A felicidade que viveu com ele durante dez anos lhe daria forças para suportar sua ausência. E assim Maria se fechou para o mundo, aquele grande amor ficou guardado para sempre em seu coração. Agora viríam os tempos difíceis, mas a forte mulher trabalhou árduamente e criou com dignidade as três filhas. Não teve ajuda alguma, trabalhou nas fazendas apanhando café, e suas mãos que outrora eram sedosas agora exibiam calos causados pelas ferramentas, mas venceu. As filhas agora moças se formaram e seguiriam suas vidas, Maria de um certo modo se sentia em paz consigo mesma, e em seu íntimo sabia que seu amado Onofre também estava em paz no céu. Agora vamos dar continuidade ao caso de seu pais que ainda estavam morando lá no sítio.

                                                                                                                                                                
 O PRIMOGÊNITO DO MAL

__Juvenal, o filho caçula do senhor Ernesto e o Nego, filho do velho Miguel cresceram juntos, e em suas adolescências e juventudes foram companheiros inseparáveis nas brincadeiras e pagodes. Era uma amizade linda, consideravam-se irmãos, e eram mesmo irmãos de leite. Mas tal companheirismo não duraria para sempre, enquanto tornavam-se adultos uma nuvem negra começava a se formar nos céus do Vale Encantado, a ganancia por bens materiais falaria mais alto. O velho Ernesto cometera um grave erro, em vida deveria ter passado a documentação das terras que presentiara o irmão de criação, garantindo-lhe a posse definitiva do quinhão de terras. Confiou que seus filhos teríam a mesma consideração com o irmão, enganara-se redondamente, os herdeiros reunidos para a partilha começaram a  tramar uma forma de tirar dali o grande e velho amigo de seu pai. Foram tempos difíceis e de muita amargura. O velho Miguel não estava acreditando no que estava acontecendo, os meninos que vira crescer, dentre eles seu irmão de leite, agora exigiam que ele devolvesse as terras que ganhara de Ernesto. Contrariado com tal situação, diante de tanto falatório e xingamentos adoeceu e pouco tempo depois morreu de desgosto, deixando sua esposa Julia e os três filhos. Por ironia do destino, na partilha das terras, na parte que tocou para Juvenal,  estava o quinhão onde morava seu irmão de leite, e que agora mancomunado com os outros filhos de Ernesto tentava reaver a terra de volta. Esquecera-se de toda uma vida de companheirismo que tivera com o irmão. O respeito pelas decisões dos antepassados caiu por terra, a grande amizade já não valia mais nada para Juvenal, nem mesmo o leite que lhe dera vida em sua tenra idade.

UMA TRAMA COVARDE

Essa contenda se deu logo depois do casamento de Maria, mas D. Julia e seu filho Miguel não se deixaram abater. Apesar de não terem forças políticas e financeiras para enfrentarem os representantes corrúptos que se vendiam ao dinheiro de Juvenal, decidiram lutar até o fim pelas terras, mesmo porque, segundo as leis vigentes no país, já estavam ali ha cinquenta anos, portanto angariaram direitos de posse. Mas mal sabiam eles que uma tramóia estava sendo planejada pelo ingrato e ganancioso Juvenal. 
Começou então a troca de insultos, briga de boca e depois foram pra justiça. Até que um dia Juvenal contratou alguns capangas, correu á boca miúda que eram para dar cabo do Nego do Miguel. No final de 1996 apareceu um retireiro, tipo coitado, D.Julia muito boa ajudava o homem sempre que necessitava com alguma coisa: pó de café, arroz, açúcar, sabão de barra ou até mesmo para passar roupas no ferro a brasa, ele recorria a D.Júlia. Mal sabia D.Júlia que estava criando uma cobra, pois o tal retireiro tinha vindo a mando de Juvenal para matar seu filho. Esse retireiro, algum tempo depois amigou-se com uma mulher trazendo-a para morar com ele ali no sítio, era apenas parte do plano para emcobrir o verdadeiro motivo de sua permanencia ali. 

__Então, em 24 de Março de 1997, num domingo da semana das Dores, como é tradição se comer peixe, o filho de D.Júlia pegou suas varas de pesca e se dirigiu ao rio para conseguir algum pescado. Naquele domingo ele ainda pretendia ir em Bambuí para combinar um serviço com um amigo, mas deu a hora do encontro e ele não apareceu. O moço que ele iria combinar o serviço notando sua demora foi até a sua casa mas somente encontrou D. Julia que disse que ele havia saido para pescar e ainda não havia voltado. Mas como toda mãe já estava ficando preocupada, pois sabia do compromisso do filho. O moço, que estava de camionete Toyota desceu o morro até próximo do rio e gritou algumas vezes por Nego, mas não obteve resposta. Quando retornou comentou com D. Julia que havia escutado um tiro e que ficou preocupado, mas depois pensou ser caçadores.


Depois de falar com D. Julia, o rapaz da camionete resolveu voltar novamente ás margens do rio, andou mais um pouco e não encontrou nada, resolveu ir embora e quando estava saindo se deparou com o retireiro embrulhado numa toalha meio inquieto pedindo carona para a cidade. O rapaz da camionete ainda passou na casa de D.Júlia e disse que esperaria pelo nego no ponto na manhã seguinte. A noite chegou e nada do nego aparecer, Dona Julia aflita não sabia mais o que fazer pois devido a sua idade não conseguia andar até as margens do rio. A espera foi insuportável para D. Julia, sozinha naquele lugar, pois depois da morte do marido Maria se casou, e José também não morava mais ali. Sua única compania era o nego. Pressentindo o pior. a pobre senhora atravessou a noite andando em volta da casa chamando pelo filho. 

Antônio Nunes covardemente atira em Miguel pelas costas. (Desenho:Joel Di Oliveira)



Na segunda-feira o moço da Toyota chegou até o ponto e não vendo o Nego resolveu descer até a casa de D.Júlia. Chegando lá a viu em volta da casa com uma lamparina na mão andando de um lado para o outro. Aflita disse que Nego não havia voltado e como ele não tem costume de dormir fora, estava á beira do desespero. D.Júlia então pede ao moço que busque Maria na cidade. Maria quando soube da situação ficou apavorada, e juntamente com a mãe foram a polícia dar queixa. Como já havia passado uma noite, a policia se dirigiu para a casa de D.Júlia com parentes e amigos que se dispuseram a ajudar na procura. Quase ao meio dia um dos policiais encontrou uma vara de pescar e levou para D.Júlia que a reconhecendo se desesperou mais ainda, a essas alturas já estava em prantos. As buscas continuaram em vão, o corpo de bombeiros de Divinópolis foi chamado mas já chegaram de tarde e só puderam ajudar no dia seguinte. Quando já fazia mais de 24 horas do desaparecimento um dos bombeiros juntamente com um dos mergulhadores encontrou algo. Levando a mão encontraram nego de pé com água até o pescoço sem beber uma gota dágua. O pobre homem fora atingido com um tiro na nuca, o mesmo tiro que o moço da Toyota havia escutado no dia anterior. O assassino, depois de alvejá-lo desceu até o local e o empurrou para dentro do rio para que ninguém encontrasse o corpo. E ás pressas foi para sua casa, se limpou com uma toalha e pediu carona ao moço da toyota como se nada tivesse acontecido. Na cidade ainda passou na casa de Maria para eliminá-la também, mas não conseguindo se dirigiu ao bar da família do mandante, onde pediu cachaça e comeu linguiça. Em seguida pegou um taxi e saiu da cidade, precisava se furtar do brutal crime que cometera. Após o assassinato do filho D. Julia ficou sozinha, então foi levada para a casa de Maria em Bambui pois temia ser morta tambem, dado o pé em que estava a situação. 
__Mesmo encontrando o corpo do nego, foi preciso esperar a vinda da pericia de Formiga  (Cidade próxima a Bambui) e só depois de 48 horas o corpo foi levado para a cidade. O velorio não pode ser feito pois não havia condições. D.Júlia com oitenta anos não aguentou mais o peso da perda, sabendo que seu filho de leite matara seu filho de sangue. E sabia que se voltasse naquelas terras talvez seria morta também. Nos dias que se seguiram á tragédia D. Julia recordou-se de toda uma vida, aquele menino que ela amamentou e cuidou depois de 60 anos cometeu essa tragédia. Era muita dor mesmo para uma mulher forte como ela, e por tantos desgostos e com o coração enfraquecido ela falece.  Certamente se encontrou com Miguel em alguma dimensão desse universo em desencanto. Nada aconteceu ao mandante do crime, hoje em dia o dinheiro fala mais alto. No dia 17 de maio de 1999, o assassino confesso foi capturado mas pegou apenas dois anos de reclusão. Como era funcionario de Juvenal, durante o dia saía para trabalhar e a noite dormia na cadeia. Mas existe os dois lados da moeda, e não demorou para Juvenal o despedir, e agora sem lugar para ficar, vagou pela cidade até falecer por morte natural. Aquele tiro certeiro pôs fim á história de dois homens de palavra que viveram lá no passado e que acreditaram que seus descendentes pudessem se revestir da mesma têmpera,  mas foram traídos por sua descendencia. Os jovens de hoje, podemos dizer os netos desses protagonistas do passado não conhecem a verdadeira história.  Todos comentam ou contam apenas trechos inócuos. Mas existem os que confirmam, os que sabem que tudo começou a oitenta e sete anos atraz, quando o Sr Miguel e o Sr Ernesto eram ainda solteiros. Criados juntos, cresceram e fizeram sua história para agora tudo terminar tragicamente com o assassinato de Miguel Ramos Filho, o Nego do Miguel, no dia 24 de março de 1997.

Da família do velho Miguel e de D. Julia restou apenas José, Maria e suas três filhas, que hoje já são moças e seguem suas vidas tentando se esquecerem do passado. Mas o destino sorrateiramente ainda lhes preparava mais uma peça. 



__Abadia, a filha do meio chegou do serviço como de costume, tomou seu banho, jantou e foi a venda para sua mãe buscar alguns víveres. Ao retornar o telefone tocou, era seu noivo pedindo para que ela fosse ao seu encontro, dizia que tinha algo importante para dizer. Prometendo á mãe que não ia demorar ela saiu ao encontro do noivo. Maria não sabia mas aquela seria a última conversa que teria com Abadia. Já beirando as cinco da manhã, chamou Aparecida e disse:
__Abadia ainda não chegou, ela não tem costume de dormir fora!...estou preocupada!!


Aparecida vendo a angustia da mãe saiu imediatamente á procura da irmã. Como já vivera situação parecida e já temendo o pior, soube o que fazer. Juntamente com policiais se dirigiram á casa do rapaz, e lá se depararam com sua tia desesperada contando que acontecera uma desgraça. O policial adentrou ao sobrado, subiu correndo a escada e viu Abadia estirada na cama com uma faca cravada no peito. Era uma cena dantesca, Aparecida não acreditava no que via, e olhando ao redor constatou que houve luta corporal. Sua irmã certamente tentara-se defender do assassino, mas não pode medir forças com seu antagonista. Sem poder fazer mais nada, a família viveria novamente a dor e o desespero de perder mais um ente querido. A cena deixava claro que o noivo a matara, não se soube o motivo, esse segredo iria com ela para o túmulo. Imediatamente os policiais saíram a procura do rapaz, e não demorou muito o encontraram. Estava pendurado numa arvore com um corda no pescoço, se enforcara. Diante do que fizera lhe restara somente a morte. Esse horrendo quadro era mais um capítulo na vida de Maria e suas filhas, cenas que as marcaram para o resto da vida.
Em casa Maria chorou copiosamente, a perda de seu amado Onofre, de seus pais e agora a filha foram golpes demasiadamente brutais mesmo para uma mulher forte como ela. Resignada entregou tudo nas mãos de Deus, pois a vida tinha que continuar. Aparecida agora tomaria a direção da família, o mundo a ensinou ser forte como a mãe, mas o seu lar já não era mais... a casa das quatro mulheres.

Maria ao centro, as duas filhas e as netas, foto gentilmente cedida por Aparecida de Oliveira.

                       
                                                                                                                                                                                                            O JUIZO FINAL

Que fique ao dispor do Supremo Criador, o julgamento dessas pessoas insanas, doentes que tramaram, mataram e se apossaram, passando por cima das decisões de seus antepassados. Ernesto Chaves e Miguel Ramos não precisavam de assinar papéis, sua palavra era lei, a lei de verdadeiros homens.
Adjetivos que não se percebe na prole que se deixou perder por tão poucas moedas. Agiu Juvenal, como Judas fêz com Jesús. A justiça de homens é falha, mas a de Deus não! O homem não come a terra, mas a terra comerá o homem. E para os malfeitores está reservado o Vale das sombras, onde deverão caminhar eternamente. E ali, em resposta aos seus gritos de dor só ouvirão gemidos e ranger de dentes.  Não terão mães para lhes consolar, nem de sangue, nem de leite.
...não terão mães para lhes consolar, nem de sangue, nem de leite. 
Gravura gentilmente cedida por
http://passapalavra.info/2013/03/74500/the-inferno-canto-13

OBS: A POSTAGEM "A casa das quatro mulheres" é um conto verídico e se passou no município de Bambui, Minas Gerais. As informações e entrevistas foram dadas e cedidas por Aparecida de Oliveira, conforme trechos gravados no site do Facebook. Todo o conteúdo, inclusive nomes citados podem ser mera conincidência com pessoas e/ou fatos acontecidos na região. Proibido cópias e distribuição por qualquer meio sem autorização do site ENIGMACOM (Histórias que o povo conta!).Joel Di Oliveira -Todos os direitos reservados.


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